Wednesday, 1 August 2012

Pensar sociologicamente

 

Elísio Macamo

Introdução
O título que dei a esta apresentação é algo pretensioso. É como se estivesse a sugerir que a maneira como os sociólogos pensam é qualitativamente melhor do que a maneira como os outros pensam. Na verdade, a minha intenção ao dar este título à apresentação é de chamar a vossa atenção para dois aspectos importantes. O primeiro aspecto tem a ver com a palavra “pensar”. Tradicionalmente, nós partimos do princípio segundo o qual a ciência produz conhecimento. Isso é verdade até um certo ponto. Algo anterior à produção de conhecimento, e que define a actividade científica, é uma maneira muito específica de pensar. Essa maneira muito específica de pensar é que é responsável pelo tipo de conhecimento que a ciência produz. A sociologia serve-se dessa forma específica de pensar para produzir uma relação crítica com a sociedade. O segundo aspecto relaciona-se com o “sociológico”. Com efeito, pensar sociologicamente não se esgota na nossa capacidade de citarmos Weber, Durkheim ou Simmel. O pensamento sociológico ganha importância quando ele é capaz de responder à seguinte pergunta: qual é a relevância de “Teorias sociológicas I e II” para as coisas imediatas da vida?
É sobre estas coisas que quero falar convosco hoje. Sei que muitos de vocês se iniciam em sociologia. Quando me encontrava na mesma fase durante a minha própria formação também tive que lidar com a agonia de explicar às pessoas o que um sociólogo faz. Dizer que sociólogo estuda a sociedade não só é circular como também completamente impenetrável. O que é estudar a socidade? Também não ajuda muito dizer que a sociologia estuda relaçãoes sociais ou a acção social. Tudo isso é metalinguagem para quem não está familiarizado com a nossa disciplina. Daí que seja importante procurar outras maneiras de explicar a nossa actividade a partir da sua pertinência para as coisas da vida. Achei que poderia abordar estas questões convosco partindo de dois tipos de erros que cometemos quando trabalhamos sociologicamente. Achei que procedendo dessa maneira iria tornar as coisas mais fáceis uma vez que não vou precisar de utilizar linguagem técnica. Esses erros ocorrem em dois momentos cruciais do trabalho dum sociólogo, nomeadamente aquando da observação e aquando da análise. 
Para não ser muito abstracto na apresentação vou referir-me constantemente a um artigo de jornal (jornal “Expresso”) publicado aqui em Maputo. Trata-se dum artigo da autoria de Gabriel Pedro e tem o título “Prostituição infantil virou moda no Muxúngué”. É uma grande reportagem que fala do aumento dos índices de infecção com o HIV/SIDA na província de Sofala em resultado parcial do aumento da prostituição de menores do sexo feminino. A província de Sofala tem índices de infecção da ordem dos 15% e figura em terceiro lugar na classificação nacional. Segundo o artigo a província é vulnerável por ser um corredor para o transporte de mercadorias do porto da Beira para os países do interior (Zimbabwe, Zâmbia e Malawi). Os camionistas de longo curso é que são os principais utentes da prostituição. Eles são também preferidos pelas trabalhadoras do sexo uma vez que pagam melhor: 1500 Meticais por hora (com este tipo de rendimento neste negócio não entendo porque alguém ainda estuda sociologia...)! A seguir, na lista de preferências das trabalhadoras de sexo, são os mineiros de regresso à casa. Estes pagam 1000 Meticais por hora. Por fim vêm os passageiros de autocarros de longo curso que pagam entre 300 e 500 por hora. O jornalista falou com duas trabalhadoras de sexo a quem teve que pagar 500 Meticais pela entrevista.
Erros de observação
A ciência baseia-se em grande parte na observação para poder dizer o que diz. A observação é muito importante para a actividade científica. Na verdade, ela é importante para todos nós, não só para a ciência. Por exemplo, o jornalista que escreveu o artigo sobre o aumento da prostituição infantil teve que ir ao terreno observar a prática. Cada um de nós aqui presente diz muito do que diz com base no que observou. Infelizmente, a observação nem sempre está isenta de erros. Há basicamente três tipos de erros que podem ocorrer. Vou-me cingir a esses erros para vos introduzir ao pensamento sociológico.
a)      Observações imprecisas
Quantos de vocês aqui se lembram da côr dos sapatos do vosso professor de “Teorias sociológicas I” na segunda semana de aulas? Aposto que ninguém se lembra. Porquê? Simplesmente porque ninguém veio à aula com a intenção de observar isso, a não ser que por qualquer razão alguém tivesse um interesse especial em reter essa informação assim que viu os sapatos. Com isto quero dizer que nós não vemos tudo que vemos. Há certas coisas que retemos e outras que simplesmente ignoramos. Seria, na verdade, difícil reter tudo o que os nossos sentidos nos permitem apreendermos. Temos necessariamente que ser selectivos na observação.  Este reparo distingue a osbervação científica da observação do quotidiano. No quotidiano há muitas conclusões que tiramos que são baseadas em observações muito imprecisas. Duas ultrapassagens perigosas feitas por dois “chapas” diferentes são suficientes para nós concluirmos que o “chapa”, duma forma geral, conduz mal. É provável que isso seja assim mesmo, mas se calhar uma observação mais cuidada havia de revelar que falando na generalidade a má condução do “chapa” não difere da má condução do automobilista médio da cidade de Maputo. Destacamos a má condução do “chapa” simplesmente porque se trata dum grupo muito específico de fácil identificação.
O artigo sobre a prostituição infantil não é exactamente um caso de observação imprecisa. O jornalista foi ao posto administrativo de Muxúngué (em Chibabava) para observar. Não obstante, as suas descrições inspiram pouca confiança. Ele não diz, por exemplo, quantas meninas estão envolvidas nesta prática, quantas eram no ano passado e quantas são agora. Ele utiliza adjectivos: “muitas”, “números alarmantes”, etc. É provável que esta maneira de descrever a situação satisfaça os critérios de qualidade jornalística. Contudo, para a sociologia é muito insatisfatória. Sobretudo num contexto como o do negócio do HIV/SIDA onde vários interesses estão em jogo para empolar ou minimizar os números uma observação precisa é imperiosa. Destes reparos retiro a primeira máxima do pensamento sociológico que gostaria que vocês apontassem:
Antes de tecerem qualquer tipo de considerações sobre seja o que for procurem primeiro saber como foi feita a observação na base das proposições que alguém faz! 
b)     Observações baseadas em generalizações
O segundo erro de observação diz respeito à tendência que temos de generalizar. Esta é uma tendência normal e, talvez até, legítima no contexto do quotidiano. Afinal, para funcionarmos no quotidiano não precisamos de muitas observações. Na sociologia (mal feita) olhamos para um número reduzido de casos semelhantes e concluímos que eles são a prova da existência dum padrão geral. E deixamos de observar. No artigo em discussão isto acontece duma maneira muito específica. O jornalista opera com um tipo-ideal, nomeadamente a ideia de menina órfã. Ela corresponde à ideia de alguém que em resultado das difíceis condições de vida que enfrenta não tem outro remédio senão recorrer à prostituição para ganhar a vida. O artigo apresenta, neste sentido, dois casos. O primeiro é o duma menina de 17 anos chamada Albertina Muthisse. Perdeu os pais em 2005 e tem quatro irmãos. Teve que interromper os estudos quando estava na nona classe para poder sustentar os seus irmãos. O segundo caso é de Gilda António que é casada com um mineiro que não volta há sete anos. Tem quatro filhos. Os dois casos falam por si: dificuldades existenciais explicam a opção pela prostituição. Perante estes dois casos pode não interessar mais saber ainda mais sobre a situação. Os dois casos confirmam um padrão geral, a saber o padrão da opção pela prostituição por razões existenciais.
Mas esta observação é problemática. Quando analisamos os casos individualmente vemos que eles são pouco convincentes. Por exemplo, o caso da Albertina Muthisse é curioso. Quando os pais morreram ela tinha 10 anos. Como é que ela sobreviveu até interromper os estudos na nona? Há qualquer coisa que não bate certo nesta trajectória, mas que passa despercibida a partir do momento em que a nossa atenção se concentra no padrão que o caso reproduz. O mesmo acontece com o segundo caso. A idade de Gilda António não é indicada no artigo. Só se escreve que ela é uma jovem. Mas “jovem” com quatro filhos e casada com alguém que não dá sinais de vida há sete anos não é decididamente “menor”. Mas mais uma vez, o padrão reproduzido retira a nossa atenção dos méritos individuais do caso. Destes reparos retiro a segunda máxima do pensamento sociológico:
Antes de aceitar um relato qualquer sobre uma determinada situação o sociólogo precisa de se certificar que ele é baseado numa amostra representativa ou típica segundo critérios qualitativos sistemáticos!
c)      Observações selectivas
Observações selectivas são muitas vezes uma consequência de generalizações. Aqui a tendência é no sentido de concentrarmos a nossa atenção em casos, eventos ou situações que confirmam o padrão que sabemos existir e para o qual já temos uma explicação. Por exemplo, quando nos interessamos pela má condução dos “chapas” apontar para mais um caso de má condução protagonizado por um deles pode não constituir grande novidade em termos de descrição dum fenómeno. O que seria interessante seria, por exemplo, trazer à superfície casos de “chapas” que conduzem bem e explicar porque eles são diferentes dos outros. O mesmo vale para prostitutas menores. Mais caso, menos caso de prostituta menor não ajuda a perceber o fenómeno em questão. Cada um deles só confirma o que pensamos saber, nomeadamente que há meninas que se prostituem em idade menor por necessidades existenciais.
Do ponto de vista da compreensão sociológica, contudo, seria interessante procurar por casos desviantes, por exemplo, casos de meninas órfãs em condição existencial difícil, mas que não entram na prostituição. Porque não o fazem? O mesmo vale para os camionistas de longo curso. Aqui também insistimos quase sempre no camionista de longo curso que usa os serviços disponibilizados pelas trabalhadoras do sexo. Sabemos muito pouco sobre o camionista de longo curso que não o faz. Idem para o mineiro e para o passageiro. A insistência no tipo que conhecemos não traz nada de novo. Mas esta insistência é bem típica do discurso da indústria do desenvolvimento que tem a tendência de se limitar ao que pensa que conhece. Desta constatação emerge a terceira máxima do pensamento sociológico:
Confrontado com casos padronizados o sociólogo precisa de procurar por casos desviantes!
Erros analíticos
Tenho vindo a falar de “erros”, mas se calhar o melhor seria falar de “dificuldades” ou “desafios”. “Erro” é um pouco pesado tanto mais que isso pressupõe uma posição privilegiada que eu não detenho. De qualquer maneira, depois de falar dos “erros” da observação gostaria de falar agora das dificuldades que resultam dos nossos esforços de conferir sentido ao que observamos. Talvez seja importante neste momento dizer que a palavra “análise”, etimologicamente, significa decompor um fenómeno e pôr a descoberto as partes que o constituem. Quando analisamos a água, por exemplo, identificamos as moléculas (oxigénio e hidrogénio) que a compõem. Do ponto de vista científico a análise vai mais longe. Não só identificamos as partes constituintes dum fenómeno como também procuramos saber que tipo de relação existe entre elas.
Esta questão é particularmente importante nas ciências sociais, pois nós dependemos muito de conceitos para termos acesso ao nosso objecto. O cientista químico coloca animais (ou partes de animais) no seu microscópio e observa-os. Nós os cientistas sociais dificilmente podemos fazer isso com a “sociedade”. Para termos acesso ao nosso objecto precisamos de o definir operacionalmente. Como podem imaginar, isso é extremamente difícil. Muitos dos conceitos que usamos, por exemplo, são rótulos gerais para coisas muito complexas. Peguemos no conceito “camionista de longo curso” como ilustração. Pois bem, um “camionista de longo curso” não é apenas alguém que conduz viaturas pesadas para o transporte de mercadorias em percursos não inferiores a 500 quilómetros. Ele pode ser homem ou mulher; pode ser desta ou daquela outra etnia; pode ter esta ou aquela nacionalidade; pode ter um certo nível de instrucção; pode ser fiel duma denominação religiosa; pode ter certas preferências políticas; pode ser casado ou solteiro; pode ter esta ou aquela orientação sexual; enfim, há todo um conjunto de características, propriedades e atributos que podem entrar na definição dum “camionista de longo curso”. Todos eles podem fazer uma grande diferença no tipo de relação que estabelecemos entre fenómenos. Por exemplo, quando dizemos que “camionistas de longo curso” preferem praticar relações sexuais sem a devida protecção essa afirmação faz pouco sentido se não prestarmos atenção ao facto de que a probabilidade disso acontecer está ligada talvez ao facto de serem camionistas com esta ou aquela orientação religiosa, esta ou aquela vivência, etc. Os “erros” analíticos estão intrinsicamente ligados à natureza difícil do trabalho com conceitos que caracteriza as ciências sociais (e não só, diga-se de passagem). Nesta apresentação vou apenas abordar dois tipos de “erros” analíticos, nomeadamente erros ligados ao que se chama de falácia ecológica e reducionismo.
a)      Falácia ecológica
A falácia ecológica é bem típica do discurso do quotidiano e costuma infectar também a análise científica. Ela ocorre quando partimos do princípio segundo o qual o indivíduo seria portador das características do grupo a que pertence. No caso do fenómeno da prostituição infantil poderíamos simplesmente partir do princípio segundo o qual toda a trabalhadora do sexo menor, todo o camionista de longo curso, todo o mineiro e todo o passageiro é portador das características que nós atribuímos a cada um desses grupos no nosso relato desse fenómeno. Assim, a trabalhadora de sexo menor sê-lo-ia por razões ligadas à necessidade de sobrevivência; o camionista de longo curso, o mineiro e o passageiro fazem uso dos serviços de prostituição e recusam, por uma questão de princípio, a utilização de preservativo.
Reparem que a lógica de pensamento é a mesma que está presente no uso que fazemos de conceitos como “população”, “polícia moçambicana”, “governo” e até mesmo “docente moçambicano”. Utilizamos esses conceitos como rótulos gerais que nos dizem muito pouco sobre as propriedades individuais que orientam a acção dos indivíduos que fazem parte desses grupos. Quando alguém diz, por exemplo, que a “população” lincha pessoas em reacção à ausência do Estado o que isso quer dizer? É claro que “população” é demasiado geral para ser de utilidade neste caso. Quem são as pessoas que participam nos linchamentos? Que características as definem? Em que circunstâncias é que esses linchamentos acontecem? Em que tipo de lugares? Com isto não queremos negar que a “população” linche pelas razões apontadas; queremos, isso sim, ser mais precisos em relação às condições sob as quais faz sentido dizer que a população lincha em reacção à ausência do Estado. Deste reparo resulta a seguinte máxima sociológica:
O sociólogo deve sempre estar preparado para identificar as condições exactas dentro das quais uma afirmação faz sentido!
b)     Reducionismo
O reducionismo é quase que o oposto da falácia ecológica. Aqui reduzimos processos complexos à acção dum indivíduo. Um caso emblemático é o de Nelson Mandela na África do Sul. Não há dúvidas de que ele teve um papel muito importante para o tipo de transição que houve naquele país. Mas a tendência bastante generalizada de reduzir o sucesso dessa transição à personalidade de Mandela é problemática porque separa o indivíduo e os fenómenos duma história que os constituiu. É o mesmo em relação à figura de Samora Machel no nosso próprio país. Ele foi o que foi em virtude da sua própria individualidade, mas também em virtude dum conjunto de factores acima dele que muito provavelmente fizeram dele aquilo que ele foi. Para entendermos o seu protagonismo nos fenómenos que queremos explicar não o podemos separar do contexto que tornou a sua pessoa possível. Isto não implica negar a grandeza de Mandela ou de Machel.
No estudo de fenómenos como o HIV existe igualmente a tendência de os reduzir à sorte dum único indivíduo. Assim, explicamos o fenómeno particular da prostituição de menores com recurso à personalidade de Albertina Muthisse desligando a pobre rapariga de todo o contexto social, económico, cultural e político que a constituiu como ela hoje é. Deste reparo resulta mais uma máxima sociológica, nomeadamente:
O sociólogo não se contenta em reduzir fenómenos complexos à singularidade dum indivíduo, mas preocupa-se também em recuperar o contexto que tornou esse indivíduo possível!
Erros analíticos costumam ser uma manifestação dum problema lógico ligado ao que se chama de falácia da afirmação do consequente. Nesta falácia apresentamos explicações circulares de fenómenos. Por exemplo, no caso da prostituição de menores se partirmos da tese segundo a qual a entrada de menores na prostituição agravaria os índices de infecção com o HIV não podemos considerar o fenómeno explicado se apenas constatarmos o agravamento do índice de infecções. O raciocínio aí teria simplesmente a seguinte qualidade:
A.    Se menores entram na prostituição os índices de infecção vão se agravar;
B.     Os índices de infecção agravam-se;
C.     Logo, é porque entraram menores nesse negócio.
É visto que este raciocínio é extremamente deficiente. Os índices podem-se dever a outros factores. O nosso raciocínio reafirma simplesmente o nosso palpite. Ora, o que isto exige de nós é a procura incessante de explicações alternativas para o que queremos descrever e analisar para nos precavermos contra explicações simplistas de fenómenos sociais.
Conclusão
Na verdade, o que tentei fazer nesta apresentação foi demonstrar que pensar sociologicamente é ser bom cidadão. O sociólogo Carlos Serra do Centro de Estudos Africanos da Universidade Eduardo Mondlane descreve muito bem as qualidades e virtudes dum bom sociólogo – e por extensão – dum bom cidadão no seu “decálogo do sociólogo” reproduzido no seu excelente livro “Combates pela mentalidade sociológica”. O bom sociólogo é aquele que se relaciona criticamente com a sua sociedade. Não diz que está tudo mal; interpela verdades simples e procura saber como os outros chegaram às conclusões a que chegaram. Pensar sociologicamente é isso mesmo.

PS: Notas de apontamento duma palestra proferida na Faculdade de Ciências Sociais da Universidade Pedagógica de Moçambique no dia 25 de Julho de 2012 em Maputo.

3 comments:

  1. É uma aula profunda pela simplicidade e clareza com que o Profº trata o assunto, como aliás tem sido o seu estilo. Há que se divulgar mais este texto, pode ajudar não somente aos sociólogos mas a todos os que se interessarem por pesquisa ou até para perceber coisas aparentemente simples do quotidiano. Parabéns. Rodrigues Nhiuane

    ReplyDelete
  2. Gostei de "saber" sobre o Pensar sociologicamente... Isso mesmo, pensar "citadinamente"...

    ReplyDelete
  3. obrigado. acho que a melhor maneira de divulgar o texto é emulando o pensamento sociológico na esfera pública. abraços

    ReplyDelete