Wednesday 22 August 2012

Socorro, Moçambique pode ficar rico!:(6) A política é a chave de tudo. FIM.

Por todo o lado no mundo é de bom-tom manter uma opinião extremamente negativa em relação à política. É natural. Afinal, é através da política que se estrutura o contexto dentro do qual cada um de nós luta pela vida e assegura a sua existência. Muitas vezes procuramos influenciar a política de modo a garantirmos as melhores condições possíveis para o alcance do que satisfaz os nossos interesses. Quando nos saímos bem dizemos que é tudo resultado do nosso esforço. Quando nos saímos mal dizemos que é porque a política é péssima. Sobretudo agora que o mundo atravessa esta difícil crise financeira a tendência é bem forte de pintar a política da forma mais negra possível. No outro dia li no Facebook uma caricatura que mostrava um filho que dizia ao pai que queria entrar para o crime organizado ao que o pai respondeu com uma pergunta: no governo ou no sector privado?
Esta imagem bastante negativa da política tem um senão: é bastante geral para ser verdadeiramente útil do ponto de vista da análise dos problemas que nos afligem. Com efeito, quando se diz “política” o que se tem em mente é apenas uma ideia, muitas vezes caricaturada, duma forma de fazer política com a qual não concordamos. A prática política no nosso país e fora já deu provas de não inspirar necessariamente muita confiança, o que não é fora do comum, pois ninguém é perfeito, muito menos quem tem que trabalhar sob o olhar crítico de todo o tipo de pessoas. Fazer política é como ser seleccionador nacional de futebol. Em cada adepto de futebol, burro ou não em matéria táctica e estratégica, está um grande treinador de futebol que conhece as melhores opções que o seleccionador que acaba de perder um jogo devia ter tomado. É difícil, mas também ninguém é obrigado a entrar na política, por isso os profissionais da política não devem usar o que estou a escrever aqui para se desculparem. Não vai, e nem deve, colar.
Mas a política é mais do que isso. Não se reduz à acção dos políticos maus. A política é o processo através do qual tentamos lidar com os acidentes que povoam a nossa existência. A nossa existência é um vasto espaço público dentro do qual, potencialmente, a acção de cada um de nós pode ter consequências negativas ou positivas nas condições de vida de outras pessoas. Na política negociamos constantemente os limites da acção de cada um de nós e estabelecemos normas em estado permanente de mudança sobre o que a convivência deve implicar. Sem querer entrar profundamente em questões complexas de ética posso desde já tornar claro que não sou defensor duma concepção de política que faz derivar a justificação da acção política dum conjunto de valores anteriores a ela própria e fundados talvez em algo transcendente. Talvez estados religiosos como os islâmicos é que têm essa concepção de política. A democracia liberal que tentamos emular na nossa própria acção política é menos ortodoxa, a despeito de todos os protestos de alguns sectores conservadores que procuram articulá-la com tradições religiosas judia-cristãs. Isso é essencialmente uma grande mentira, mas também outro assunto.
O que quiz reflectir neste conjunto de textos foi precisamente a ideia de que a descoberta de riqueza potencial no mar e na terra constitui uma oportunidade ímpar para voltarmos a dar uma nova oportunidade à política. Fazer isso significaria em minha opinião primeiro abandonarmos a ideia de que política é o que os políticos fazem e, segundo, abandonarmos também a ideia de que existe uma fórmula através da qual podemos produzir um contexto político que vai ditar normas eternas que garantam uma “boa” política. Nos anos imediatamente a seguir à independência tivemos isso e todos nós sabemos no que deu. Algumas das críticas que fazemos à acção das nossas elites políticas hoje sugerem um pouco essa ideia dum quadro normativo anterior à acção e, portanto, garante de verticalidade. Na vida, o plano que leva de A a D sem desvios é a excepção. A regra é que de A a gente passe para P ou S, ande lá pelos Z e X, recue para G e chegue a D depois de ter passado por T. Ou que a gente não chegue jamais a D. Isso porque abordamos o que os outros fazem na hora, redefinimos os nossos interesses e recomeçamos de novo. Política que não toma isto em consideração é política inútil.
Muitas vezes não consigo escapar à sensação de que fazemos política inútil no país. Nesses momentos dou comigo a gritar: socorro, o país pode continuar pobre!
   
Colaboração: Elísio Macamo, Sociólogo.
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Chegamos assim ao fim desta série.
 






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